Casar é bom e a gente gosta

O convite que a Apple enviou para a imprensa em 2011, chamando-a para o lançamento do novo iPhone, era um primor. Apenas uma imagem com quatro dos principais ícones do celular mais desejado dos últimos anos: o app do iCalendar possuía o número 4 (de outubro, data do lançamento); o ícone do relógio apontava 10h (horário da coletiva); o símbolo do GoogleMaps mostrava a localização da sede da Apple e o ícone de notificações do telefone, com o número 1, indicava que havia algo novo ali. Mesmo com a saída de Steve Jobs, a mensagem era de que a máxima da empresa continuava sendo: “Se é pra fazer, que faça direito”.

Acredito nisso: se a gente for fazer algo, que seja bem feito. Que ao menos a gente tente. Casar (ou ficar casado) é uma dessas coisas. Na maioria das vezes, vejo amigos que simplesmente ficaram cansados de ouvir a namorada dizer que não aguentava mais ser enrolada e “Não teve jeito, né?”. Meu velho, sempre tem.

Já li alguns artigos sobre não sabermos lidar direito com a pós-modernidade. Tudo etéreo demais, sabe? E reconheço: é cada vez mais difícil manter-se em algo tão concreto e longínquo quanto um casamento. Mas vou te dizer, é bom, viu? E vale a pena. Não dá para afirmar categoricamente que é para todos, mas acredito que muitos perdem a oportunidade de partilhar algo massa com alguém por falta de maturidade ou preguiça do “Se for fazer, que seja bem feito”.

Outro dia, um amigo mais novo, que namora há uns quatro anos, me perguntou: “Casar é difícil, né?”. Não, meu amigo, pelo contrário: casar é fácil. Difícil é permanecer casado. Postei isso no Facebook e recebi comentários do tipo: “Não acho que ficar casado é difícil, é muito gostoso!”

Claro que é gostoso. É incrível. Eu, pelo menos, acho sensacional a ideia de compartilhar minha vida com alguém. Alguém que não tem a obrigação de me fazer feliz, nem o contrário, mas alguém com quem quero partilhar minha felicidade e compartilhar de quem já sou. Ter alguém que muitas vezes pensa diferente de você, te ajuda a crescer, a adquirir novas visões, perspectivas, novos sonhos. É uma das experiências mais sensacionais que tenho vivido nos últimos tempos. Mas é difícil, não vou te enganar.

É um pouco como andar de skate. Tive um long e, vez ou outra, me arriscava em calçadões, ruas pouco movimentadas, parques e ladeiras. A descida é uma delícia que só. Mas a gente cai: se rala, estraga o ombro, abre um rombo no joelho. E, mesmo quando tudo vai bem, ao final da descida é preciso pegar o skate, colocá-lo embaixo do braço e subir a ladeira novamente.

Mas não queremos ralar o joelho. Não queremos encarar a ladeira. Temos medo, inclusive, de descê-la. E, assim, muitas vezes acabamos nos enroscando em outros relacionamentos, já que o nosso não é uma eterna descida de skate. Disfarçamos essas passeadas por outras ciclovias (digamos assim), para que o nosso calçadão, lá em casa, continue achando que está tudo bem. Mas não está. O acordo não era esse, mesmo que você não goste dele.

Antes de casar, falta convicção. Depois, falta coragem, seja de manter-se nele ou de ser honesto. Seja de assumir que você gosta mais de bicicleta do que de skate, seja para dizer que você não quer escolher nenhum dos dois.

Porém, é uma escolha, que não acontece só no dia do “Eu aceito”. É uma escolha constante, sempre. E não dá pra ter tudo. Escolher casar é escolher abrir mão de muitas outras coisas. Escolhi isso, e escolhi fazer bem feito. (Eu tento).

Fonte: Ultimato

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