Let it go!

Quando escolhi este título foi inevitável cantar a música melosa que ficou na cabeça e no imaginário infantil de todos por conta do filme da Disney – ao qual nem assisti, aliás. Se você pensou no mesmo, toca aí! Se não pensou, ganhou uma licença para cantarolar o título agora e fazer desse som a trilha sonora para nosso novo dia de mudanças. Isso porque o tema de hoje tem mesmo tudo a ver com essa expressão, que é uma das que mais gosto no idioma inglês.

Traduzindo ao pé da letra, ela seria algo como “deixe ir” e tem mesmo a ver com a ideia de “deixa para lá, não se estressa com isso”. É quase um mantra que tento viver mais e mais e por um motivo básico: não posso resolver tudo, não posso ter, agora,  mundo que queria e as pessoas não são perfeitas. Logo, me estressar com coisas fora do meu alcance, me emburrar e fazer minha existência mais amarga não parece coisa muito sábia a se fazer. Ainda mais se estou mesmo numa jornada para ser alguém melhor, mais leve, mais feliz.

Não sei para você, amiga, mas, para mim, coisas pequenas podiam ser motivos para um terremoto de intensidade 10 na Escala Richter. Levando em conta que o terremoto destruidor do Chile em 1960 é considerado o maior e bateu 9,5 nessa mesma escala, dá para imaginar minha fúria e os danos que causava ao redor, né? Não importava muito se a coisa era grande ou pequena, se eu tinha razão – quase sempre tenho! – ou não. Se as coisas fugiam ao meu controle ou se, de alguma forma, não saiam como eu achava que tinha que ser… Ai, ai, ai, era mais seguro sair de perto até a fúria passar. Uma idiotice convenhamos!

Estou deixando de ser idiota e te convido a deixar de ser também, pois, ao final deste mês, seremos novas criaturas, e essas novas mulheres nascendo não merecem ser idiotas. Somos muito idiotas e ridículas quando brigamos por qualquer coisa e estragamos relações maravilhosas – conjugais, aliás – por bobeiras contornáveis. Hoje, quero falar sobre nossos relacionamentos e a alegria e plenitude que é ter uma relação sadia, sem cobranças, com apoio, carinho e menos atrito. Talvez você esteja lendo isso agora balançando a cabeça, já imaginando a impossibilidade do que estou propondo. Isso provavelmente se dê pelo fato de que você se acostumou com uma vida tumultuada e nunca experimentou verdadeiramente uma vida mais pacífica. O que propus vale para tudo, mas quero me concentrar, neste nosso vigésimo quarto dia, em nossa relação com nosso marido, noivo ou namorado.

Vejo que muitas meninas foram criadas num ambiente de brigas, de conflitos e onde levantar a voz para se impor fazia e faz parte da rotina da casa. Por crescerem assim, num lugar onde uma meia fora do cesto era motivo de gritaria e acusações e uma toalha molhada tinha o mesmo tratamento de uma traição, elas se acostumaram ao conflito e tomaram isso como verdade absoluta para a vida; mas eu vou te dizer: não é verdade! A vida pode ser melhor do que você tem aí, dessa coisa sem paz que você chama de vida a dois. Existem casais que brigam dessa forma, que conversam para resolver seus conflitos, que não levantam a voz para colocar sua opinião sobre algo e que respeitam o espaço físico e auditivo do outro. Existe vida sem tumulto, minha linda, pode crer!

Vou começar admitindo que não é nada fácil. Com isso começo a rir sozinha das vezes em que tive que fechar os olhos, morder a língua, contar até 45.678, respirar fundo, sair um pouco de perto e voltar, mansa e suave, para perguntar a ele porque não tinha levado o lixo para fora como eu pedi. Na maior inocência, ele respondia que tinha esquecido e que levaria agora. Ok, sem dramas, sem crise, sem briga. Comecei a notar que, com menos atritos e cobranças, a leveza na relação voltava em forma de mais carinho, mais cumplicidade e menos mágoa acumulada embaixo do tapete.

Esse negócio de acumular mágoas é algo dolorido e cruel que vai destruindo as paredes da nossa casa a ponto delas não se sustentarem mais. O teto desaba, caindo por terra um lar de amor. Restam apenas ruínas de lembranças amargas de palavras ditas fora de hora que, no calor das discussões, muitas vezes começavam sem um bom motivo. Como já disse aqui, eu sou cristã e leio a Bíblia. Um verso específico vem sempre à minha mente quando minha língua quer ter vida própria e bater nos dentes, ecoando grosserias e impropérios. Está lá em Provérbios 25:11 e diz que: “A palavra proferida no tempo certo é como frutas de ouro incrustadas numa escultura de prata”. Acho isso lindo. Acho rico, aliás. É muita pobreza de espírito a gente sair xingando, fazendo a louca e dando piti, dando a maior pinta de descontrolada. Só acho!

Existem lutas que simplesmente não valem a pena lutar, e parece que, em ambientes como o trabalho ou mesmo nas amizades, entendemos isso melhor do que no relacionamento. Conseguimos suportar um mal dia do chefe, uma ofensa não intencional da amiga ou alguém que nos desagrada, para manter as aparências, a amizade e o emprego. Então porque raios é que descambamos geral justamente com quem mais importa? Cobramos atenção exagerada, brigamos porque ele sai pra jogar bola ou pedalar com os amigos. Reclamamos das roupas jogadas, da palavra não dita, do dia ruim que transparece vez ou outra em casa; mas, quem nunca? Se gastarmos toda a munição, argumentos e energia nas coisas pequenas e sem importância, já estaremos fracas e feridas demais quando realmente precisamos nos impor.

Em estratégia militar isso faz todo sentido, em planejamento de marketing também. Não aposte todas as suas fichas em qualquer desacordo, não saia querendo ser a dona da razão, quase obrigando-o a se ajoelhar e pedir perdão. Simplesmente, não vale a pena, ainda que o prazerzinho da briga pareça inebriante demais. Será que você não está viciada nisso? Nessa vida de “briga-faz-as-pazes-conflito-briga-choro-reconciliação”? Não sei quais os vícios que marcou ontem ou quais já é capaz de reconhecer, mas talvez este seja o de muitas mulheres: brigar!

Uma vida sem conflitos é impossível, mas uma vida mais pacífica é perfeitamente acessível. Diminua as lutas, os gritos e os ataques neuróticos e fale mentalmente para si mesma: “ok, não vale minha ruga esta preocupação”. Deixe para lá, let it go! Se precisar cante, esgoele, mas lembre-se disto: você é uma pessoa melhor do que ontem, do que semana passada e será uma evolução constante. Lembre-se também, de que esse melhoramento requer autocontrole e serenidade. Hoje é o dia de testar isso, este é o primeiro dia do resto de sua vida mais calma e menos briguenta.

Fonte: Livro Uma nova mulher em 30 dias – Págs 175 – 179 – Autora: Fabiana Bertotti – Editora: Pórtico

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