O tal pote da (in)gratidão

No começo do ano, junto com todas aquelas resoluções que costumamos fazer, segui uma inspiração do Instagram para um exercício de contentamento: o potinho da gratidão. Uma jarra de vidro, papel e caneta. Só. Essa era a simples receita para o que parecia um hábito simples e super-realizável (além de, claro, ser “instagramável”). Mas o resultado da minha empreitada acabou por ser um verdadeiro atestado médico sobre a saúde do meu coração. Seis meses depois e está aí o fruto da minha (in)gratidão: a jarra de vidro quase vazia, salva apenas por dois bilhetinhos. Os dois primeiros, os dois únicos. E ainda por cima, eu só escrevi um deles. Deveria parecer piada, mas é tragédia.

Primeiro, eu me justifiquei pela falta de tempo. Parar para escrever quando você está contando os minutos que tem de sono é um desafio e tanto. Eu ia ter que pensar em algo bom, mas simples o suficiente para caber em um pequeno pedaço de papel. Três segundos de análise mental e eu desistia no meio do pensamento: “eu vou só fazer uma oração agradecendo e tudo bem”. Ok.

Depois, eu me justifiquei pelo próprio fracasso. “Já está vazio mesmo”, “Depois eu começo de novo” e “Agora vai parecer que estou fazendo apenas para não ter esse pote me encarando na cabeceira da cama todos os dias”. O vazio do pote foi o fim e os meios do meu fracasso.

Mas, hoje, ao olhar para esse triste eco envidraçado, tudo o que eu consegui pensar foi: ingratidão. Eu não escrevi porque não tinha tempo. Não. Eu deixei de manifestar meu agradecimento pois não achava importante o suficiente para parar um minuto e escrever uma palavra que seja. Eu não escrevi porque, na verdade, eu não acho que agradecimento é louvor. Eu vi a gratidão como “dever de casa”. Da mesma forma como não conseguia escrever, eu também percebi que as minhas orações estavam vazias de contentamento. Em águas paradas, no piloto automático do “Senhor, obrigada por esse dia, amém”. Deus me livre disso.

Claro, eu não preciso de um pote de vidro para agradecer a Deus. Mas, se nem minhas orações possuem manifestações genuínas, constantes ou espontâneas de louvor, então há um pecado a ser tratado. Eu precisei de um pote de vidro e seis meses de silêncio para perceber que não faço do louvor a Deus uma prioridade em meu coração, com ou sem potinho da gratidão. Matthew Henry disse certa vez, “O que ganhamos na oração devemos revestir de louvor”. E, mais do que isso, ainda temos todas as coisas que Deus nos concede sem que nem ao menos nos déssemos conta de pedi-las! Não há desculpas para a ingratidão. Não há falta de tempo que justifique a falta de louvor. Se não formos nós, as próprias pedras clamarão (Lucas 19:40).

Veja bem, Deus não precisa de nosso louvor. Ele é glorificado desde a eternidade, desde antes da fundação do mundo. O que nós experimentamos como seus filhos é o privilégio imensurável de reconhecer seus atributos e seus grandes feitos manifestados tanto nas grandes coisas quanto nos mínimos detalhes da nossa rotina. Deus irá receber louvor de qualquer maneira, ele não precisa de mim ou mais ninguém para isso. Mas apenas os seus filhos amados têm a possibilidade de louvá-lo em alegria.

Nas palavras do teólogo Ruy Marinho, em seu artigo “O conceito de gratidão nos salmos”: Assim, mediante tudo aquilo que o Senhor fez por você, mediante a impossibilidade de retribuição pela bênção recebida, não lhe resta mais nada, senão se prostrar diante dele em adoração. Mas lembre-se: gratidão a Deus não é um mero “obrigado”. É, antes, um coração rendido. É louvar. Por isso, atenda o convite do salmista:

“Cantem hinos a Deus, o SENHOR, todos os moradores da terra! Adorem o SENHOR com alegria e venham cantando até a sua presença.” Salmo 100.1-2

Fonte: Voltemos ao Evangelho

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