Panela velha, cara de nova

Minhas panelas são bem-cuidadas. Não são novas, evidentemente. No nono ano de casamento elas já apresentam alguns riscos, umas manchinhas que resistem em sair e algum amassadinho aqui e acolá. A despeito de pequenas avarias, parecem como novas. Cuido delas. Nas com revestimento antiaderente uso sempre colheres apropriadas para não riscar. Nas de inox, deixo de lado a palha de aço. Trado bem delas, pois não sou de trocar tudo o tempo todo. Acho que é assim com gente também.

Tem gente que destrata suas “panelas” que você pode traduzir por amigos, irmãos, pais ou cônjuge. É. Quando adquirem, são novinhos, parecem sem defeitos e cheios de utilidades. Há um zelo inicial. Daí o tempo passa e se esquecem  que sem os cuidados básicos essenciais, as “panelas”  ficarão riscadas, amassadas, queimadas e ao olhar, vai dar vontade de trocar. O que é uma tremenda injustiça, ressalte-se! Foram tantos os pratos saborosos, a fome satisfeita…

Outro dia estava com meu marido preparando nosso habitual molho de tomate da sexta. Comentei do tempo que tinha nossa panela wok e ele se impressionou com os anos que ela nos acompanha: “uau, parece nova!” exclamou. Parece mesmo, mas não é. Tem até um amassadinho que eu fiz ao deixar cair a tampa entre o fogão e a pia quando eu morava em Santa Felicidade, o bairro gastronômico de Curitiba.

Estou numa fase minimalista na cozinha, de experimentar temperos, executar poucos pratos, mas com sobriedade e atenção para não deixar escapar nenhuma nuance. Acho que é efeito dos muitos livros de culinária que ando xeretando. Mas daí achei as panelas uma boa metáfora para esta coisa da relação da gente. É que panelas não precisariam ser substituídas se fossem bem cuidadas, limpas e guardadas. Dizem até que a panela velha é que faz comida boa. Também acho que gente “velha” rende muita coisa boa.

As pessoas que estão conosco há tempos precisam dos mesmos básicos cuidados do início. Da atenção carinhosa, do carinho atencioso. De respeito, espaço. É claro que você vai conhecer gente nova, amigos novos, parentes agregados, todavia, como deixar de lado aquele que te supriu tantas necessidades, que te ofereceu tantos sorrisos que viveu uma parte da vida contigo? Cuidado com os riscos, com o jeito de tratar, de guardar e de limpar. Cuidado com as panelas e também com as pessoas. Mais tempo, mais história. Mais história, mais vida!

Fonte: Blog Fabiana Bertotti

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