A necessidade de agradar

“Tive sorte!”, me ouvi dizer enquanto olhava atentamente o que dizia minha amiga. Sabia que merecia ser parabenizada por concluir meu doutorado em Psicologia. Trabalhei duro. E sorte não era o que havia me mantido acordada durante noites e noites enquanto escrevia minha tese. Mas, com medo de que minha amiga pensasse que eu queria mostrar minhas qualidades, arranjei diversos argumentos que nem eu mesma acreditava para responder a seus elogios ao longo da conversa.

Eu havia caído na armadilha de agradar aos outros. Quando não somos honestos com os outros sobre quem realmente somos e, em vez disso, mostramos uma imagem de quem pensamos que deveríamos ser para receber aceitação, somos o tipo de pessoa que só quer agradar.

Mas não precisamos ser escravos da aprovação de ninguém. Em vez disso, podemos servir aos outros de forma autêntica e proclamar juntamente com o apóstolo Paulo: “não falamos para agradar pessoas, mas a Deus, que prova o nosso coração” (1 Tessalonicenses 2:4). Vamos refletir sobre como podemos nos libertar da armadilha de viver para agradar aos outros.

Conheça a si mesmo – “Damos glória a Deus simplesmente sendo nós mesmos”, escreve o autor Brennan Manning. No entanto, não podemos glorificar a Deus através de nós mesmos se não sabemos quem somos!

Em minha primeira sessão de aconselhamento com Karen, uma mulher de 37 anos que dizia viver para agradar aos outros, ela admitiu que não sabia quem era a Karen real. Certamente não deu aos outros a oportunidade de conhecer quem de fato era. “As pessoas pensam que sou a esposa perfeita e a mãe perfeita”, disse Karen.

Seus amigos comentavam sobre sua casa sempre arrumada e as refeições deliciosas que preparava para a família. Trabalhava em diversas áreas da igreja e em comitês de seu bairro, dizia “sim” a qualquer solicitação. Mas, secretamente, ela estava exausta e amargurada. Incerta de quais eram realmente seus dons e talentos, sentia-se vazia, simplesmente passando de uma atividade a outra. Para ajudar alguém que precisa conhecer a si mesmo – o que gosta, o que não gosta, suas fraquezas e qualidades –, recomendo que reflita e responda a estas questões:

Quem é você? – Descreva-se em 20 adjetivos, com o foco em suas qualidades pessoais e não nos papéis que exerce. Para cada atributo negativo, escreva duas qualidades.

Por exemplo: Eu não sou apenas impaciente, sou também compassiva e animada.

Como seu cônjuge ou seu melhor amigo o descreveria? – Outras pessoas percebem diferentes aspectos de sua personalidade que você mesmo não enxerga. Meu marido geralmente observa e destaca meu lado carinhoso enquanto lido com meus filhos.

Quais são seus hobbies e interesses? – É importante saber o que lhe dá energia e o mantém conectado àquilo que você acha ser a forma como Deus o criou. Eu me sinto viva quando estou tomando café com amigos, jantando com meu marido ou fazendo trabalhos manuais com meus filhos.

Que dons e talentos Deus lhe deu? -Identificar e usar os dons e talentos que Deus lhe deu são formas de praticar mordomia. Quando como doces preparados por minha amiga Stephanie, sou grata pelo dom que ela desenvolveu.

Após refletir sobre quem você realmente é, busque oportunidades para viver de maneira autêntica em seus relacionamentos.

Talvez você tenha a oportunidade de convidar alguns amigos para encontros semanais e escolher diferentes atividades para cada semana, cada um contribuindo com sua atividade preferida: seja tocar piano ou escalar. Ao compartilhar seus interesses e hobbies, você aprofunda suas amizades.

Para construir amizades mais autênticas, Karen aprendeu a investir seu tempo fazendo menos tarefas para sua família e mais tarefas com sua família. Brincava com os filhos, pedia a ajuda deles na cozinha e preocupava-se menos se eles iriam sujar a casa. Deixou de se voluntariar para todos os comitês e associações e conseguiu tempo para realizar o sonho de montar um pequeno grupo para mentorear jovens mães. Conhecendo a si mesma, tornou-se disponível para servir as pessoas, não para buscar aprovação, e sim para demonstrar amor genuíno.

Aprenda a gostar de você – Após conhecerem a si mesmas, muitas mulheres têm dificuldade em enxergar suas qualidades. Se minha mãe precisasse fazer uma lista de suas qualidades, provavelmente hesitaria. Mas posso dizer que ela é engraçada, compassiva e bonita. É mãe amorosa e esposa devotada. E apesar de não ter um diploma universitário, tornou-se comerciante de sucesso após seus quatro filhos terem terminado seus estudos. Ela é disciplinada em sua vida espiritual e raramente perde uma manhã de leitura bíblica e oração. Mas em vez de falar sobre isso, ela daria uma longa lista de fraquezas e limitações. Recentemente me disse que nunca acreditou que sua verdadeira identidade fosse algo aceitável. Portanto, escondeu suas qualidades e espelhou-se no comportamento de suas amigas. Mudou seu discurso, sua maneira de agir e até a forma de limpar a casa, tudo isso para se tornar aceita por suas amigas.

Eu também já relutei em gostar de mim mesma. Tive medo de que, ao olhar para minhas qualidades, me tornasse orgulhosa. Mas o maior mandamento de Deus, amar o próximo como a si mesmo, implica que você ame a si mesma.

Amar a si mesma não significa ser arrogante ou egoísta.

Significa aceitar os dons do Criador e viver em gratidão por tê-los recebido. É valorizar a si mesma como Cristo a valoriza.

Peça a Deus que a ajude a se enxergar como Cristo faz, com graça e compaixão. Escreva uma carta usando as Escrituras, hinos e letras de música que reflitam o amor de Deus por você. Então coloque estes escritos em seu espelho ou mesmo na geladeira. Quando não consigo me olhar como Deus me vê, coloco meu nome nas Escrituras. Às vezes me imagino como a mulher que sofria com uma hemorragia, descrita em Marcos 5 e ouço Jesus me chamar de “filha”. Minha mãe memoriza e recita as Escrituras para se lembrar sempre de quem ela é em Jesus. Quando você acolhe seus dons e talentos, você serve e se doa aos outros apenas por gratidão a Deus por tudo que ele lhe deu.

Descanse no amor de Deus – Você pode ser uma filha de Deus, mas ao mesmo tempo ser tentada a enxergar os outros através de uma percepção de quem vale mais.

Há alguns meses, após ter pregado em um culto na capela da universidade em que dou aula, perguntei repetidas vezes a meu marido o que ele havia achado da mensagem. É óbvio que desejar a aprovação de meu marido é natural. Mas muitas vezes penso mais sobre quem sou aos olhos dele do que aos olhos de Deus.

Quando você busca afirmação nos outros, você pede que reflitam seus sentimentos e pensamentos com perfeita expressão e percepção. Quando meu marido não consegue fazer isto, fico frustrada. Seu marido, seus filhos e seus amigos podem amá-la da melhor maneira que conseguem, podem ressaltar suas qualidades e ajudá-la a enxergar como Deus a desejou e criou. Mas quando você pede que alguém diga quem você é, está pedindo que aquela pessoa seja o seu deus. E seres humanos com certeza irão desapontá-la.

Deus, e apenas Deus, é seu “espelho” verdadeiro.

Ele é o único que pode amá-la e conhecê-la perfeitamente. (1 Coríntios 13:12).

Quando você deixa de ter expectativas irreais e deixa de obrigar que outros exerçam este papel, é possível descansar na sua identidade em Cristo.

Posso receber os elogios e a afirmação de meu marido com gratidão em vez de receber por necessidade. Quando sinto a necessidade de buscar sempre seus elogios e aprovação, me coloco diante de Deus e digo que sinto a necessidade de ser amada e compreendida. Peço que Deus me ajude a buscar em primeiro lugar a sua aprovação em vez da aprovação dos outros.

Quando buscamos a Cristo, paramos de tentar provar aos outros que somos boas mães, esposas e membros da igreja. Além disso, nunca seremos bem-sucedidas na tarefa de provar aos outros nosso valor: não somos perfeitas! Mas você é valiosa. E este valor não é baseado no que você faz aos outros e sim no que Cristo já fez por você e em você. Quando descanso no fiel amor de Deus, sirvo aos outros com verdadeira liberdade.

Meus velhos medos sobre aprovação ressurgiram no ano passado após receber elogios de um colega por ter publicado meu primeiro livro. Em vez de terminar a conversa com frases sem sentido, compartilhei minha alegria genuína pela mensagem do livro e fui relembrada de uma passagem das Escrituras, sobre usarmos nossos dons “para servir os outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas” (1 Pedro 4:10). A fronteira entre servir e agradar as pessoas às vezes parece tênue. Mas conforme aprendemos a conhecer e amar a nós mesmos como amados de Deus, começamos a servir simplesmente para compartilhar a graça de Deus.

Por: Kim Gaines Eckert

Fonte: Cristianismo Hoje

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