Só tenho o hoje

Ele tinha esperado demais e chegara a hora de um momento emocionante para marcar a união com a mulher amada. Festa organizada, casamento a caminho. Celebração, parentes e amigos sorrindo e ele tinha uma taça no bolso. Foi o suficiente. Caiu, cortou uma veia importante e acabou com tudo. A festa acabou para ele e para a noiva com quem acabara de trocar as alianças.

Não era sua primeira ladeira de bicicleta. Mas foi a última. O senhor de meia idade desceu com a magrela sem freio e encontro um outro senhor desavisado que no meio do caminho foi um obstáculo ao ciclista. Um obstáculo à vida. Os dois caíram, os dois morreram. Ali, assim, no meio da rua, por um acidente de bicicleta!

Estavam todos felizes e a gravidez tinha sido muito tranquila. Mas na semana do parto a pressão da gestante resolveu subir demais. Teve medicação, teve acompanhamento, mas não teve sorte. No dia, na hora do parto, foi inevitável. A pressão foi além do que ela poderia suportar, foi além da conta. Ali, enquanto paria sua filha, dava adeus a sua vida.

Na chuva tudo parecia gostoso demais, até que os raios e trovões ficaram mais assustadores que divertidos. No descampado, próximo à sua casa, resolveu que embaixo da árvore era um bom abrigo até o medo passar e voltar a pular nas poças d’água. Tinha só 15 anos. Tinha só vontade de tomar banho de chuva. Não tinha noção de que um raio poderia matar.

Todas estas mortes, aparentemente estúpidas, foram noticiadas no G1. Guardei mais algumas para um trecho do meu livro, mas quis compartilhar estas com você, leitor do meu blog. É que hoje me deu uma sensação dolorida de que o passado não me pertence e ainda não tenho o futuro, para me dar ao luxo de perder o presente com mágoas tolas, sonhos inacabados e frustrações dos outros, que querem fazer entrar em mim.

Não tenho inimigos na vida – embora seja bem capaz de algumas pessoas me incluírem nesta categoria -, mas é que não quero perder espaço no meu coração e gastar minhas emoções com algo tão áspero. Vai que eu caia de bicicleta? Vai que um raio me atinja! E se minha pressão resolve subir ou uma doença me levar mais rápido que o planejado? Tenho esperança de uma vida em Cristo, mas e aqui, vou desperdiçar meu tempo assim?

Ah, não! Pare pra pensar em quanto o seu dia pode ser pleno? Sabe aquela música que te deixa feliz? Ouça! E o abraço que estava com vontade de dar no filho, na esposa, no namorado? Esmague e encha de beijos! Tá na hora de retomar os estudos, de ler aquele livro, de aprender sobre como vivem as orquídeas. É tempo de viver. Viver bem, viver leve, perdoar e esquecer. Pois pode ser que não dê tempo de mais nada e  você não vai querer, nos minutinhos finais, lembrar que passou boa parte da vida alimentando sensações tão desprezíveis e descartáveis como raiva, rancor, inveja, mágoa, desprezo…

Vai que…

Fonte: Fabiana Bertotti

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