Criança que “trabalha” não dá trabalho

Muitas mamães me perguntam sobre o método de “trabalho” que utilizo aqui em casa com os nossos filhos. Coloquei a palavra trabalho entre aspas pois não sou a favor do trabalho escravo, mas acredito com todas as forças que crianças que aprendem a colaborar com pequenos serviços dentro de casa, serão cidadãos colaborativos para a sociedade amanhã. O oposto também é verdadeiro. A criança que “trabalha” aprende a ser gente. Oferecer aos seus filhos a oportunidade de aprender a fazer sozinhos pode ser mais benéfico do que imagina!

Muitas vezes, como pais, observamos aqueles seres pequenininho e frágeis e não percebemos o quanto são fortes e capazes. Muitos, preocupados com o bem estar dos seus pimpolhos, atiram no lixo grandes oportunidades de desenvolverem suas capacidades e habilidades nas tarefas mais simples do dia a dia, como colocar uma meia ou um tênis, por exemplo. Um pai que faz pelo seu filho aquilo que ele já é capaz de fazer, está lhe comunicando através dos atos que não o considera capaz e inteligente para executar aquela tarefa. E aqui repito: o oposto também é verdadeiro.

Um exemplo que vivenciamos a pouco tempo e foi bem interessante aconteceu com a minha mais velha, de oito anos. Durante o almoço ela perguntou quando poderia descascar a laranja sozinha e dissemos que seria por volta dos dez anos, justificando que mexer com faca era perigoso (olha só a influência da mamãe protetora, rs). Na mesma hora ela entendeu a resposta como um desafio e quis tentar. Mordi a língua, ofereci uma faca sem ponta e pensei: “Se ela se cortar será um processo do aprendizado. Fica em paz Daniela, faz parte!” Bem, aí está o registro da laranja toda descascada. Fizemos a maior festa e depois fiquei pensando: “E se o meu medo tivesse sido tão grande a ponto de sufocar a capacidade dela? Como isso é sério!”

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Voltando a questão das tarefas, elas foram divididas em duas partes: “obrigações” e “deveres com recompensa”. Ou seja, algumas tarefas do dia-a-dia são obrigatórias e não oferecemos recompensa alguma, quer dizer, a recompensa até existe, mas eles ainda têm dificuldade de enxergá-las como recompensa. Com os pequenos serviços obrigatórios eles estão ganhando educação, disciplina, organização e uma mãe menos chata (rs). E como estipular quais os serviços obrigatórios? Acho que depende muito da idade e da dinâmica da família. Aqui, por exemplo, estipulamos os seguintes:

Trocar, dobrar e guardar a roupa que usou, levar na máquina roupas sujas, arrumar a cama aos finais de semana, tirar o prato da mesa, chegar da escola e guardar mochila, levar a lancheira na cozinha, fazer as tarefas de casa antes de brincar, guardar os brinquedos e objetos utilizados, tomar banho, se enxugar e se trocar sozinhos, vestir o uniforme, entre outros.

Separamos também algumas tarefas que oferecem recompensas. Neste caso, eles têm a opção de escolher fazer ou não, ou seja, estão aprendendo nas pequenas ações aqui dentro de casa a dura realidade da vida. Se nos esforçamos e trabalhamos, o dinheiro chega, mas se somos preguiçosos, o bolso fica vazio. Acho que esse sistema de recompensas é muito mais pedagógico do que a famosa mesadinha, afinal, dinheiro não cai do céu. Não vamos ter o papai e mamãe oferecendo um dinheirinho todo o final de mês para o resto da vida não é mesmo?

Compartilho com vocês o nosso quadrinho de tarefas que montamos juntos. Eles estipularam as tarefas e os valores. Claro que com a nossa orientação, mas o processo se torna muito mais eficaz quando os pequenos participam. Lembrando que nós, como pais, precisamos ser disciplinados para que o sistema funcione. Ou seja, se ele tirou o pó só da metade dos móveis, não vale ficar com dó e entregar os 100% do valor combinado. Neste caso ele deverá receber apenas 50%. Lembre-se: você está formando um ser humano que muito em breve (bem antes do que você gostaria) vai voar para fora do ninho e terá que enfrentar a dura realidade da vida, que certamente não será boazinha e compreensiva como o papai e a mamãe.

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Minha filha mais velha completa nove anos este mês e o caçula está com cinco anos. Já explicamos a eles que este quadrinho não é fixo e muda com o passar do tempo. Ou seja, algumas tarefas que hoje geram recompensas, amanhã passarão para o quadro de tarefas obrigatórias. Logo a minha mais velha estará lavando a louça por obrigação, pois precisa entender que ela faz parte do time de organização e cuidados do lar e que a mamãe não é a empregada faz tudo. Um mimo de vez em quando é bem gostoso (e eu faço!) mas não pode virar rotina, afinal, esses bichinhos “estragam” com muita facilidade (rs).

Outra coisa bem legal e que tem funcionado bem aqui em casa é estimular os pequenos a pensarem em ideias e saídas para ganharem o seu próprio dinheirinho. Por exemplo, vira e mexe vamos em alguma loja e os nossos filhos ficam com vontade de comprar algo, mas já sabem que presente tem hora certa (com raras exceções). Então, quando a vontade é grande, eles inventam algum artesanato e saem vendendo pelo condomínio. Outro dia, minha mais velha e sua amiguinha montaram pequenos buquês com a folhas que estavam sendo cortadas das árvores e venderam por R$ 1,00 cada (os vizinhos foram bem colaborativos!). No fim, minha filha chegou em casa com R$ 9,00 depois de uma tarde inteira de “trabalho” e muito feliz e satisfeita. Dividiu o dinheiro com a amiguinha e depois foram comprar o brinquedinho que queriam. Não é uma experiência fantástica?

E pra finalizar, caso você não tenha ideia de como começar, compartilho uma tabelinha bem interessante. Você pode partir dela!

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Fonte: Vida de Mãe Dani

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