As três vias da evangelização apaixonada

Existe a evangelização mercenária e a evangelização apaixonada. Elas têm motivações opostas, propósitos opostos, métodos opostos e costumam produzir resultados opostos.

As três vias da evangelização apaixonada são a oração, o exemplo e o anúncio.

A evangelização pela oração

É preciso orar pelos descrentes por causa do estado de morte em que se encontram todos os mais de 6 bilhões de habitantes do planeta, sem nenhuma possibilidade de retornar à vida.

Todos pecaram, dizem as Escrituras, e “estão destituídos [ou privados] da glória de Deus”, ou “afastados da presença gloriosa de Deus” (Rm 3.23, NTLH). Estão todos “mortos em pecados e delitos” (Ef 2.1). A terra é um vale cheio de ossos sequíssimos, que precisam se juntar osso com osso outra vez, e receber carne, tendões, pele e espírito, para tornarem a viver (Ez 37.1-10).

É preciso orar por causa da extrema dureza do coração humano (Jr 3.17; 7.24; 11.8; 16.12; 18.12). O pecador tem “coração obstinado” (Is 46.12), “tendão de ferro no pescoço” e “testa de bronze” (Is 48.12). Ele carrega uma bagagem enorme de apatia, ignorância, cegueira, loucura, incredulidade, tradicionalismo, preconceito, soberba e servidão pecaminosa.

É preciso orar porque só Deus é capaz de fazer o mais difícil de todos os transplantes: “Tirarei do peito deles o coração de pedra e lhes darei um coração de carne” e “colocarei no íntimo deles um espírito novo” (Ez 11.19, EP).

A evangelização pelo exemplo

É preciso viver o que se prega, senão a evangelização torna-se uma hipocrisia. Essa incoerência entre conduta e mensagem gera indignação, desprezo, zombaria, escândalo, incredulidade e rejeição.

Jesus deu muita ênfase à evangelização pelo exemplo, quando declarou francamente: “Vocês são o sal da terra para a humanidade; mas, se o sal perde o gosto, deixa de ser sal e não serve mais para nada; é jogado fora e pisado pelas pessoas que passam” (Mt 5.13, NTLH). No mesmo Sermão do Monte, Ele ensina que “uma cidade construída sobre a montanha não fica escondida” e “não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma caixa, mas sim no candelabro, onde ela brilha para todos os que estão em casa”. Em seguida, Jesus ordena: “Assim também, a luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai de vocês, que está no céu” (Mt 5.14-16, CNBB e NTLH). Somos agora o que Jesus foi no passado: “Enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo” (Jo 9.5). A igualdade da missão de Jesus com a de seus discípulos aparece também na Grande Comissão: “Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei” (Jo 17.18).

Aos coríntios, Paulo assume que, “como um perfume que se espalha por todos os lugares, somos usados por Deus para que Cristo seja conhecido por todas as pessoas” (2 Co 2.14, NTLH). Tornamos o evangelho conhecido mais pelo perfume do que pela palavra. Abusando da figura, é possível acrescentar: mais pelo olfato do que pela audição. Foi por isso que São Francisco de Assis disse: “Evangelize sempre; se necessário, use palavras”.

Pouco na frente, o mesmo Paulo garante aos seus filhos na fé: “Nossa carta de recomendação são vocês mesmos…, conhecida e lida por todos os homens” (2 Co 3.2, EP). Horácio, o poeta romano do primeiro século antes de Cristo, dizia que “mais profundamente nos impressiona aquilo que vemos do que aquilo que ouvimos”.

O exemplo de quem é sal da terra, luz do mundo, perfume de Cristo e carta de apresentação se manifesta pelas boas obras. Aliás, somos “criados em Jesus para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos” (Ef 2.10, EPC). Se o evangelho não alterou o nosso comportamento e continuamos iguais aos não convertidos, não temos como evangelizar, pois “a fé que não se traduz em ações é vã” (Tg 2.20, CNBB), não tem valor, não vale nada, não produz nenhum fruto, é inoperante, é morta. Mostra-se a fé salvadora pelas obras e não pela mera confissão de fé. A única evidência visível da fé alojada no íntimo, ao olhar perscrutador do descrente, é constituída dos atos de obediência do crente. Entre esses atos convincentes estão a autenticidade (“comprometo-me a viver o que prego e deixar de pregar o que não vivo”), o casamento estável, o cumprimento do dever, a honestidade, a linguagem sadia (não agressiva, não bajuladora, não caluniadora, não mentirosa, não obscena, não soberba), as relações humanas aprovadas (controle do gênio, cordialidade, humildade, perdão), a sexualidade mantida dentro dos padrões bíblicos, o envolvimento social (posição pública contrária à injustiça) e o equilíbrio religioso tanto nas convicções como na defesa delas (o fanatismo é uma contra-evangelização desastrosa).

A evangelização pelo anúncio

Não basta orar e ser exemplo. É preciso ir. É preciso mover-se. É preciso falar. É preciso gastar tempo. É preciso apaixonar-se. É preciso vencer a preguiça, o comodismo e o acanhamento. É preciso atear o fogo do evangelismo. É preciso guardar-se tanto do ativismo (predominância da ação em prejuízo da oração) como do misticismo (predominância da oração em prejuízo da ação).

Entre o muito que se pode fazer para evangelizar os descrentes, os testas de bronze, os corações de pedra, ocupa lugar de destaque o ministério da amizade. Esse ministério consiste em amar profundamente as pessoas, aproximar-se delas, mormente os que sofrem, os enfermos, os enlutados, os pobres, os marginais e os marginalizados. Na verdade, “não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mt 9.12, NVI). O amor cria possibilidades e abre caminhos. Sem amor não se inicia uma conversa, não se faz evangelismo pessoal, não se dá uma porção bíblica ou um folheto de boa qualidade, não se convida alguém para um encontro ou para uma reunião na igreja.

A arte de trazer os excluídos do lugar onde estão para a sala do banquete e de obrigar (não no sentido de violação da vontade alheia, mas no sentido de insistir, atrair, encorajar) os mais distantes a entrar é um ministério maravilhoso e tem fundamento bíblico. Foi assim que, na Parábola do Grande Banquete, a sala se encheu de toda sorte de gente: “Vá pelos caminhos e valados e obrigue-os a entrar” (Lc 14.23, NVI). Simão Cirineu foi agarrado e obrigado pelos soldados a carregar a cruz de Jesus até o Gólgota (Lc 23.26). Muito provavelmente foi isso que mais tarde o levou à fé.

Quando a oração, o exemplo e o anúncio acontecem ao mesmo tempo, é muito difícil não haver novos convertidos. Isso, por sua vez, faz a Igreja crescer tanto em número quanto em qualidade.

Fonte: Revista Ultimato

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